domingo, 20 de maio de 2012

Assombre-se!

"De modo geral, o mundo perdeu o senso de assombro. Crescemos. Já não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou do perfume de uma rosa, como acontecia antes. Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios de sabedoria do mundo. Não deslizamos mais os dedos sobre a água, não gritamos mais para as estrelas nem fazemos careta para  a lua. Água é H2O, as estrelas foram classificadas e a lua não é feita de queijo. Graças à televisão via satélite e aos aviões a jato, podemos visitar lugares que no passado eram acessíveis apenas por Colombo, Balboa e outros exploradores intrépidos.


Houve um tempo, não muito distante, em que a tempestade fazia um homem adulto estremecer e sentir-se pequeno. Deus, no entanto, está sendo deixado de lado pelo mundo da ciência. Quanto mais sabemos sobre meteorologia menos inclinados nos tornamos a orar durante uma tempestade. Os aviões voam agora acima, abaixo e entre elas. Os satélites reduzem-nas a fotografias. Que ignomínia - se é que uma tempestade pode experimentar ignomínia - reduzida de teofania a mero incômodo.

Heschel diz que hoje cremos que todos os mistérios podem ser resolvidos, e que todo o assombro não passa do 'efeito que o novo imprime sobre a ignorância'. Certamente o novo é capaz de nos impressionar: um ônibus espacial, o jogo mais recente de computador, a fralda mais macia. Até amanhã, até que o novo se torne velho, até que a maravilha de ontem seja descartada ou tomada como coisa certa. Não é de admirar que o rabino Heschel tenha concluído: 'À medida que a civilização avança, o senso de assombro declina'."


Frase do notável rabino, Abraham Joshua Heschel, após sofrer um ataque do coração quase fatal, ainda no leito de um hospital:


"...nunca na minha vida pedi a Deus sucesso, sabedoria, poder ou fama. Pedi assombro, e ele me concedeu."



Trechos retirados do livro: O Evangelho Maltrapilho, de Brennan Manning.

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